Ultimamente não tenho tido muita sorte
com peças de teatro. Assisti a umas quatro recentemente e devo dizer que
nenhuma me fez vibrar de emoção ou pular de alegria. Duas delas, que já saíram
de cartaz e foram encenadas em teatros respeitáveis, não eram propriamente
ruins, mas também não empolgaram minhas endorfinas. As outras duas apenas me deram
a certeza de que um bom trabalho de marketing ou assessoria
de imprensa faz toda a diferença, inclusive quando a montagem não é boa.
É neste segundo caso que classifico Histeria,
comédia dirigida por Jô Soares que esteve em cartaz no Teatro Tuca. Guiando-me
pela crítica dita "especializada", tentei, ao lado de alguns amigos, comprar ingressos
para assistir ao espetáculo num determinado sábado, mas estava tudo esgotado e
só conseguimos comprar para o sábado seguinte. Mesmo assim, nossos lugares
ficavam na décima quarta fileira. Para quem não sabe, Histeria é uma comédia
escrita pelo britânico Terry Johnson, em 1993, que aborda um relacionamento
hipotético entre Sigmund Freud, o pai da psicanálise, e o pintor surrealista
Salvador Dali. Sabemos que os dois homens realmente se encontraram no ano de
1938, pouco antes da morte de Freud, quando o pintor foi visitá-lo em Londres,
cidade para a qual o médico se refugiara fugindo à perseguição nazista aos
judeus. Porém, não sabemos o que conversaram. A ideia de associar o pai da
psicanálise a um pintor surrealista numa interação imaginária inspirada nesse
encontro naturalmente foi interessante, já que Freud descobriu o recurso da
interpretação dos sonhos para a cura psíquica e as imagens oníricas estão no
cerne da produção surrealista de Dali. Soube que a peça teve boa receptividade
em Londres e Paris, sendo que nesta cidade foi dirigida por ninguém menos que
John Malkovitch, em 2002. Por esta razão, quando fui ao teatro assistir à
adaptação brasileira, esperava um texto brilhante, diálogos inteligentes e tiradas
criativas, mas confesso que me decepcionei um bocado. Achei o roteiro fraco, o
texto quase não me fez rir e não me impressionou em absoluto. Não
conheço o roteiro original e pergunto-me se o erro estava na adaptação de Jô
Soares. Só sei que o problema, definitivamente, não estava na produção, que era
ótima, e muito menos no elenco, que incluiu atores do naipe de Cássio Scapin,
interpretando Salvador Dali, e Pedro Paulo Rangel, no papel de Freud. Esses
dois honraram seus personagens como sempre fazem. Porém, em minha opinião, as
boas atuações do elenco não foram suficientes para segurar o espetáculo.
Acho desalentador o fato de que deve haver
peças muito boas por aí que amargam plateias vazias por não serem vistas pela
crítica especializada e, por isso, sequer recebem avaliação nos guias de
entretenimento dos jornais e revistas. Outras montagens, por sua vez, nem são tão boas
assim – isso quando não são francamente ruins -, porém ostentam nomes globais
no elenco e/ou direção, recebem farto patrocínio, são encenadas em bons teatros
e divulgadas com estardalhaço, atraindo hordas de espectadores e lotando as
salas.
Semana passada, por exemplo, fui ver O
Impecável, stand-up de Luiz Fernando Guimarães que acaba de estrear no
Teatro Gazeta. Quis assistir à peça porque tinha como referência o excelente humor
desse ator que conheço desde os tempos da lendária TV Pirata e da série Os
Normais, entre outras produções. O fato é que sempre gostei de Luiz
Fernando Guimarães e, apostando nele, fui conferir a montagem em que interpreta
diferentes personagens num salão de beleza de Copacabana. Esperei encontrar
algo com a qualidade de Cada um com seus
pobrema, o hilário stand-up no qual Marcelo Medici encarnou personagens
impagáveis, ou da altura do Terça Insana,
que fez história com uma divertidíssima Grace Gianoukas interpretando tipos
amalucados e inesquecíveis. O que encontrei, no entanto, foi um roteiro ralo,
piadas sem graça, uma produção pífia e um Luiz Fernando Guimarães bem diferente
daquele que já me fez rir. Achei as caracterizações fracas, não há troca de
figurinos – ao contrário dos excelentes stand-ups que mencionei anteriormente -
e, por vezes, a dicção do humorista era ininteligível. Ele tem dado entrevistas
e divulgado o espetáculo na mídia, mas, em minha opinião, os R$ 90,00 que
paguei para assistir não justificam nem de longe o resultado.
Saudades de Barbara Heliodora, a crítica
teatral que fazia os encenadores tremerem nas bases, mas que tanta luz jogou
sobre nossos palcos. Espero que os jornais paulistas coloquem a mão no bolso e invistam
em críticos verdadeiramente especializados para assistir e avaliar mais peças em cartaz, a fim
de que o público possa receber melhor orientação em suas escolhas. Se já fazem
isso razoavelmente com o cinema, por que não fazerem também com o teatro? Existem dezenas de
produções, por aí, à espera de uma avaliação. Enquanto isso não acontece, acho
mais prudente esperar o "boca a boca", isto é, a indicação de algum amigo, para
selecionar a próxima peça a que vou assistir. Até porque teatro custa caro e
meu tempo livre não tem preço.
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