A cada ano que passa, a Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo fica melhor. A 39ª edição, que começou no dia 22 de outubro e vai até amanhã,
4 de novembro, está exibindo mais de 300 títulos de 62 países em 22 endereços,
entre cinemas, espaços culturais e museus da cidade de São Paulo. São tantos
filmes e endereços que os cinéfilos mais assíduos devem ficar até angustiados. Para
quem ainda dispõe de um tempo para assistir às últimas sessões, é uma ótima
oportunidade para saber o que o mundo anda criando nas telonas.
Um dos destaques deste ano é a série de projeções ao ar livre de
filmes clássicos e restaurados com apoio da 'The Film Foundation' e entrada
franca. Na noite de sábado, dia 31/10, tive o privilégio de assistir a uma deliciosa
comédia romântica projetada na gigantesca parede externa dos fundos do
Auditório Ibirapuera: 'Meu Único Amor'. Lançado em 1927, o filme tem como protagonistas a graciosa musa do cinema mudo e
também produtora Mary Pickford (1892-1979) e o doce galã Charles "Buddy" Rogers
(1904-1999), que também foi um bem-sucedido músico de jazz. A projeção foi
valorizada pelo acompanhamento musical ao vivo da
Orquestra Sinfônica Heliópolis, sob regência do maestro David Michael Frank,
que também compôs a trilha sonora especialmente para o filme, em 1999, a pedido
da Fundação Mary Pickford.
Charles "Buddy" Rogers e Mary Pickford, a dupla romântica fofa do filme. |
Na
película, baseada em uma história da escritora americana Kathleen Norris, Mary
Pickford interpreta Maggie, uma jovem que se divide entre o trabalho de
estoquista em uma loja de departamentos e os cuidados com a família meio
amalucada. Quando conhece Joe (Charles "Buddy" Rodgers), novo funcionário de
seu departamento, se apaixona sem saber que ele é, na verdade, filho do milionário
dono do estabelecimento. O rapaz foi desafiado pelo pai a trabalhar na loja e
conseguir uma promoção por mérito, sem fazer uso do sobrenome, para que depois
pudesse anunciar seu noivado com a socialite Millicent.
O mocinho galante e a graciosa "Maggie" de Mary Pickford. |
Essa cena é antológica. No horário do almoço da loja onde trabalham, o mocinho rico divide um lanche com a mocinha que pensa que ele é pobre, espremido dentro de um caixote. |
A maior graça do filme é o seu humor ingênuo e, ao mesmo tempo, sutil e encantador. A história de amor é como aquelas que praticamente não existem mais hoje em dia, por retratar sentimentos absolutamente puros e verdadeiros. Mary Pickford, uma bonequinha com grandes olhos e uma boca minúscula em formato de coração, é um poço de expressividade. O galã é um verdadeiro lord, bonito, pueril e de bom coração. Enfim, trata-se de um daqueles filmes que transmitem um tremendo bem-estar. Para completar, o espaço externo do Auditório Ibirapuera lotou de famílias, casais e grupos de amigos que foram curtir aquele programa inusitado e interessante para uma noite de sábado. Muitos levaram um lanchinho e, quando eu estava chegando, vi até um casal com duas crianças carregando uma pizza (rs)! Ao final da exibição, topei com umas moças saboreando Prosecco – por pouco não me juntei a elas!! (rs). Nem pipoca faltou – comprei uma pipoca doce fresquinha de uma moça que vendia saquinhos de pipoca num tabuleiro. Havia algumas cadeiras disponíveis para o pessoal da terceira idade e o espaço foi civilizadamente respeitado. Pareceu-me que o nível do público que assistia era muito bom, e imagino que devia ser composto por cinéfilos, estudantes de cinema, gente com um bom nível cultural. Tudo de bom!
A película foi um dos maiores sucessos da carreira de Mary
Pickford e sua despedida do cinema mudo, além de ter sido, também, a primeira
parceria dela com o diretor Sam Taylor, com quem faria a maior parte de seus
filmes falados dali para a frente. Curiosidade: a atriz com boca de coração foi
casada com o galã Charles "Buddy" Rogers, 12 anos mais novo, de 1937 até sua
morte, em 1979. Rogers foi seu terceiro marido.
A restauração do filme foi feita pelo Arquivo de Cinema e
Televisão da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), com financiamento
de Fundação Mary Pickford, Instituto de Humanidades Packard e The Film
Foundation.
A curadoria e a organização da 39ª Mostra Internacional de
Cinema estão de parabéns por uma iniciativa tão democrática e de alto nível. Apaixonei!
Ficha
técnica parcial
Direção: Sam Taylor
Roteiro: Hope Loring, Allen McNeil, Tim
Whelan, Clarence Henneckef
Fotografia: Charles Rosher
Música: David Michael Frank
Elenco: Mary Pickford, Charles "Buddy" Rogers e outros
Produção: Mary Pickford Corp. / United
Artists
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