domingo, 7 de novembro de 2021

Julie, a última dos Manet, ganha exposição em Paris.

Quem conhece a pintura impressionista se lembra de Julie Manet (1878-1966) como a graciosa modelo de inúmeros retratos pintados pela mãe, Berthe Morisot (1841-1895), primeira pintora a se juntar aos impressionistas e morta precocemente aos 54 anos. 

Mas o fato é que Julie foi muito mais do que modelo e “mascote” para os colegas artistas da mãe. Ela mesma tornou-se uma excelente pintora e, depois que todos eles partiram deste mundo, tornou-se também uma memória viva do Impressionismo, o movimento artístico que escandalizou Paris a partir de 1874.

Desde bebê, Julie aparece nas pinturas de Berthe com ar sonhador, em composições serenas e delicadas que eram a marca registrada do estilo da mãe e retratavam sua vida doméstica, os familiares e, principalmente, seus filhos pequenos.

Julie também era sobrinha de uma “ovelha desgarrada” do movimento impressionista, Édouard Manet, autor de Déjeuner sur l’Herbe (Almoço na Relva), considerada a primeira pintura moderna pelos historiadores de arte, e foi aluna, após a morte do pai Eugène, do poeta Stéphane Mallarmé, amigo da família. Ainda pequenina, além de posar para a mãe, posou também para o tio Édouard Manet, para o padrinho Edgar Degas, e frequentou a casa dos Renoir. Consta que a menina era uma criança - e depois adolescente - sensível, discreta, que se comportava na vida como diante do cavalete: com sabedoria.

Esq.: 'Retrato de Julie Manet' por Auguste Renoir, 1894 | Dir.: fotografia inédita de Julie Manet

E agora, o museu Marmottan Monet, de Paris, dedica a Julie Manet uma exposição que finalmente faz jus a seu talento, a sua personalidade e seu papel na História da Arte. Mostra sua infância protegida em um lar afetuoso e de mente aberta, a adolescência órfã, pois o pai Eugène, irmão mais novo de Édouard, morreu em 1892 e sua querida mãe partiu apenas três anos depois - bem como o casamento e a idade adulta. A mostra também exibe obras de Berthe e Édouard que Julie fez questão de transmitir à posteridade, bem como suas próprias produções pictóricas e seu diário, no qual escrevia profusamente. A esse respeito, vale destacar que foi após ler os diários de Delacroix que Julie teve a ideia de colocar seus próprios pensamentos íntimos no papel.

As irmãs Gobillard também são mencionadas na exposição: Paule e Jeannie, primas de Julie e também órfãs, dividiram um apartamento com ela na rue de Villejust, em Paris, e as três trabalharam pintando sob os auspícios do terno amigo Renoir, que as encorajava e aconselhava. Paule se tornaria uma artista reconhecida e o dom de Julie não ficaria atrás, como mostra a pintura 'Martha em vestido de veludo verde' . Embora às vezes atormentada pela dúvida, ela manteve-se fiel aos preceitos maternos: “Acolher tudo, desde que seja verdadeiro o sentimento e autênticas as ideias”.

'Martha em vestido de veludo verde', por Julie Manet, 1898

Em 1900, Julie se casou com Ernest Rouart, aluno de Degas que promoveu o primeiro encontro de ambos no Louvre, e Jeannie Gobilllard casou-se no mesmo dia com Paul Valéry. O casal Rouart-Manet colecionava pinturas de mestres como Poussin, Corot, Delacroix e Monet, entre outros, enquanto Julie lutava para levar às paredes públicas as pinturas da mãe e do tio Édouard. A herança artística de Julie, tanto genética quanto social, pelo convívio com artistas à frente de seu tempo, ficou evidente durante toda a sua vida. Além de artista plástica, ela atuou também como designer, pois não parava de pintar e desenhar, e a exposição do Marmottan exibe uma série de obras inéditas, algumas de coleções particulares. Já não era sem tempo que um grande museu prestasse homenagem à talentosa mascote dos impressionistas.

Ernest Rouart, Julie Manet, Paul Valéry e Jeannie Gobillard posam na rue de Villejust
no dia de seu casamento, em 31 de maio de 1900.

Fonte: L'Express

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