Acredito que a pandemia esteja sendo particularmente penosa para
pessoas que ignoram o prazer de um bom livro ou, o que é pior, não suportam o
desprazer de sua própria companhia. Felizmente não me enquadro em nenhum desses
casos e em pleno confinamento fico muitíssimo bem, obrigada. Porém, estou longe
de ser uma criatura antissocial e, por vezes, sinto falta de encontrar meus amigos,
sair para tomar um vinho, circular em outros ambientes. Tudo bem que posso
abrir um tinto dentro de casa, como às vezes tenho feito, mas sinto saudades das
boquinhas que saltitam em torno das garrafas em uma mesa de bar ou restaurante. Teatro
e cinema, então, nem se fale! Sinto que esses dois prazeres permanecerão no
nível da utopia por muitos e longos meses ainda, talvez até por mais de ano, se
é que vão sobreviver até lá. Tempos estranhos, esses que estamos vivendo.
Porém, outro dia me permiti uma pequena "extravagância", se é que
podemos chamar assim. Após cerca de cinco meses saindo de casa somente em casos
de necessidade, consegui sair para almoçar fora e respirar outros ares. E eram "outros
ares" literalmente falando, mesmo. Fora de São Paulo, no meio do verde. Aliás, eu
jamais iria a um restaurante fechado nessa época – tenho amor à vida. Fui
almoçar no Recanto da Traíra, um lugar
despretensioso e muito agradável no município de Guararema, a uns 80
quilômetros de São Paulo, no Vale do Paraíba.
O restaurante fica na área rural da cidade, cercado de vegetação
e colado ao rio Paraíba do Sul, o mesmo onde foi encontrada a imagem de Nossa
Senhora de Aparecida que batizou a cidade de Aparecida do Norte e atrai milhares
de romeiros todos os anos. E por falar nisso, Nossa Senhora devia estar de
conluio com outro santo, São Pedro, que foi bem camarada e nos brindou com um
dia bonito, excepcionalmente quente para o inverno.
Como aquele almoço era comemorativo do Dia dos Pais, eu havia
feito uma reserva pelo WhatsApp com o gerente Leandro e tive a oportunidade de
conhecê-lo no dia de minha visita. Ele nos contou que o movimento na casa
estava menor devido à pandemia, mas, mesmo assim, conforme o tempo foi passando, restaram poucas mesas
disponíveis. Vale ressaltar que todos os protocolos de segurança estão sendo
respeitados, com álcool em gel na entrada e em outros pontos estratégicos,
mesas distantes umas das outras e funcionários portando máscaras.
O estilo do lugar é rústico, com muita madeira, tijolos à vista e amplos salões
abertos, tudo muito arejado e aconchegante. Para quem prefere ficar ainda mais
próximo da natureza, há mesas também na área externa, junto às árvores. O tipo
de cenário que acalma, baixa o cortisol e dá um "up" nas endorfinas, como
costumo dizer.
Em tempos normais, há também um buffet no fogão a lenha, com vários pratos para os clientes se servirem. Naturalmente, por causa da pandemia somente o serviço à la carte está sendo oferecido.
Foto: Simone Catto |
As mesas na área externa também são uma tranquilidade - Foto: Simone Catto |
A especialidade da casa são os peixes, como o próprio nome do restaurante já indica, mas eles não são pescados por ali: são importados e preparados de forma simples, sem invenções gastronômicas, apenas acompanhados de um molhinho tártaro. Servidos cortados em pedaços finos ou no formato de ”iscas”, sem espinha, também ficam saborosos na versão “fish e chips”, a famosa combinação inglesa. E foi com uma dessas que começamos para petiscar: experimentamos o dueto traíra e chips, muito gostosinho e crocante. Para acompanhar, a caipirinha tradicional de limão com cachaça Salinas caiu maravilhosamente bem. Meu pai pediu uma de maracujá, também com Salinas, e adorou. Naturalmente, nenhum de nós dois pegou no volante depois.
A dupla 'Traíra e Fritas' é servida exatamente assim, ótima como petisco (R$ 48,90). Foto: Recanto da Traíra |
Caipirinhas de limão e maracujá, perfeitas! (R$ 13,92 cada) |
Porção de tilápia com molhinho tártaro, uma delícia (R$ 57,63 a porção média) - Foto: Simone Catto |
A meia porção de arroz à grega que parecia inteira (R$ 15,94 a meia porção) - Foto: Simone Catto |
Entre um prato e outro fui dar uma explorada no local e, no
fundo, perto do rio, há uma área com redes penduradas para as pessoas descansarem.
O recanto ficou bonito e simpático, mas, para descansar nas redes, melhor
esperar o vírus descansar primeiro.
Além da comida boa e do cenário natural, os atendentes são muito
gentis e os preços convidativos, beeeem diferentes daqueles cobrados em São
Paulo. Só para dar uma ideia, estávamos em quatro pessoas e a conta total deu
R$ 230,00 incluindo os pratos fartos, as bebidas (2 caipirinhas e 4 águas minerais), uma
sobremesa, três cafés e a taxa de serviço. Resultado: pretendo voltar assim que
o frio der uma trégua, desta vez em companhia de amigos que já se animaram a
conhecer o lugar quando contei a eles minha experiência.
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