Em minha última viagem à Provence,
visitei cidadezinhas que são na realidade vilarejos com menos de dois
mil habitantes, e também cidades maiores, embora nenhuma destas se compare, em dimensões,
aos mastodontes que temos no Brasil. Uma das cidades onde estive é Arles, no departamento de
Bouches-du-Rhône, que possui pouco mais de 50 mil habitantes e que eu já
conhecia dos livros de história por causa de seu monumento mais famoso,
o anfiteatro romano também conhecido
como Amphithéâtre d'Arènes.
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Vista externa do Amphithéâtre d'Arènes - Foto: Simone Catto |
Como era de se esperar, foi para lá que rumei assim que cheguei à cidade. Queria ver de perto aquele prodígio da arquitetura ancestral. O imponente anfiteatro, que foi palco de jogos e combates
no século I d.C., é o maior e mais bem preservado monumento arqueológico de Arles. A
impressionante arena com 136 metros de comprimento e 107 metros de largura
acomodava cerca de 21 mil espectadores contra os 12.500 que atualmente assistem a touradas, shows e outros espetáculos.
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O entorno do anfiteatro é repleto de lojas de souvenirs, de roupas e cafés - Foto: Simone Catto |
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Outro ângulo externo da bela e bem preservada construção romana - Foto: Simone Catto |
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A sensação de circular aqui dentro é fantástica! - Foto: Simone Catto |
É mesmo uma bela construção. A
fachada possui uma fila dupla de arcadas com 60 arcos menores e quatro maiores
que são as entradas principais. Na época romana, os espectadores sentavam em 34
fileiras de degraus que eram cobertos com tábuas de madeira. Durante a Idade
Média, foram adicionadas torres com escadas de onde dá para tirarmos belas
fotos da cidade.
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Corredor entre as arcadas duplas - Foto: Selma |
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Foto: Simone Catto |
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Vista do alto de uma das torres do anfiteatro - Foto: Simone Catto |
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Nesta foto dá para notar bem a solidez da construção - Foto: Simone Catto |
E como se não bastasse um anfiteatro,
Arles tem dois, ambos próximos. O outro, menorzinho, é chamado de Théâtre Antique e foi construído no
reinado de Augustus um século antes do outro, no ano I a.C., no coração da
cidade antiga. Este acomodava oito mil pessoas em 33 fileiras de assentos e a parte
de trás do palco era decorada com colunas e estátuas.
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Entrada do Teatro Antigo - Foto: Simone Catto |
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O interior do gracioso teatro romano - Foto: Selma |
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Na parte de trás do palco dá para vermos fragmentos das colunas - Foto: Simone Catto |
A maioria das relíquias escavadas no
local pode ser apreciada no Musée Lapidaire d'Art Païen, à exceção da descoberta arqueológica mais preciosa, a 'Vênus de Arles' que
se encontra no Louvre, em Paris. No início da Idade Média, o teatro foi usado
como pedreira e forneceu o material para a construção do prédio da prefeitura. Também lá
são realizados, atualmente, shows musicais e outros espetáculos. No dia de
minha visita, uma banda fazia a passagem do som.
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Ruínas do Teatro Antigo - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
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Enquanto eu explorava o lugar, a banda testava a acústica... - Foto: Simone Catto |
E a herança galo-romana
assombrosamente bem preservada da cidade não para por aí. Mais para cima, às
margens do rio Ródano, estão as Termas
de Constantino, outro testemunho
arquitetônico da prosperidade da cidade à época. As termas, que mais parecem um
palácio, são um extenso complexo para saunas e banhos que data do início do ano
4 d.C., construído sob as ordens do imperador que lhe dá o nome. Lugares públicos
frequentados por todos, inclusive mulheres, crianças e escravos, essas termas
eram incorporadas à vida da cidade e indispensáveis para o conforto no dia a
dia dos cidadãos.
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Vista externa das Termas de Constantino - Foto: Patrimônio da Cidade de Arles |
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O traçado original das Termas - Foto: Simone Catto |
Originalmente, as Termas de Constantino cobriam cerca de 3.750 m², dos quais
restam, atualmente, 1.100 m² que abrangem o Caldarium
(banho quente), partes do Hypocausto (calefação sob o piso) e o Tepidarium
(sala de vapores quentes).
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Entrada das Termas - Foto: Simone Catto |
Os romanos utilizavam sofisticados sistemas de
aquecimento. O calor provinha do ar quente que circulava nos subsolos, os Hypocaustos,
alimentados por pequenos fornos no interior dos muros. O solo era elevado
para que o calor pudesse ser gerado sob ele. A temperatura chegava a 30°C,
podendo alcançar até mesmo os 60°C. A esse respeito, ao contrário do que muita
gente possa pensar, vale ressaltar que não era a água a grande estrela desses
lugares, mas os vapores, as saunas. Em outras palavras, os romanos adoravam suar em bicas (rs).
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Abaixo, à esquerda, as colunas de tijolos chamadas pillettes, por onde circulavam os vapores de aquecimento sob o solo - Foto: Simone Catto |
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Forno do Hypocausto - Foto: Simone Catto |
Os visitantes alternavam banhos quentes e frios em
piscinas com temperaturas variadas e seguiam um trajeto recomendado pelos
médicos. Primeiro a pessoa despia-se no vestiário, praticava exercícios
físicos, tomava um banho na piscina externa e finalmente ia para o Tepidarium,
uma sala termal aquecida com temperaturas entre 25°C e 30°C.
Em seguida, o banhista passava por uma sauna seca e outra
úmida, para limpar as impurezas dos poros antes de dirigir-se ao Caldarium, um
vasto espaço coletivo com temperatura de 55°C, para um banho de limpeza. Lá
havia piscinas rasas com águas quentes e o banhista então espirrava água no
corpo enquanto se esfregava com uma espécie de lixa metálica, pois não existiam
sabonetes entre os romanos. O Caldarium, com seu teto abobadado, é o ambiente
mais importante preservado na atualidade.
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Vista do Caldarium - Foto: Simone Catto |
A última etapa era o Frigidarium, onde o feliz visitante
tomava um banho frio para tonificar a pele e nadar ao ar livre antes de receber
uma massagem com óleos perfumados pelos escravos, se depilar (sim, romanos
também eram metrossexuais!) e descansar nos bancos de mármore. Cultura física,
leitura, passeios, descansos e conversas faziam parte das atividades no lugar. Vida
boa, a desses romanos!
Mas é bom reforçar que, por várias
vezes, em minha jornada ao sul da França, descobri que o patrimônio histórico e
cultural das cidades podia extrapolar, e muito, aquilo que está nos livros. Com
Arles não foi diferente. A cidade tem atrações que vão muito além da
herança galo-romana, avançando séculos à frente. No próximo post, vou mostrar
algumas delas e também fotos que tirei em minhas andanças por suas ruas. Aguarde!
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