Muitos brasileiros que viajam à Europa
retornam com um misto de sentimentos, sobretudo quando visitam algum país mais
desenvolvido que a média do continente. Por um lado, ficam felizes por terem
tido a oportunidade de apreciar uma bela civilização, o que inclui respeito às
pessoas, à história, à arte e à natureza. Por outro, vivenciam uma espécie de
choque cultural e se deprimem ao comparar essas realidades civilizadas com
aquela que encontram no Brasil: corrupção, violência, falta de educação, enfim
- atraso material e, principalmente, cultural e moral. Por essa razão, sempre
opto por reter na memória aquilo que é bom e faz bem. É assim que procuro
manter, em minha mente e espírito, as melhores lembranças de minhas viagens.
Estive há pouco na Áustria para realizar uma pesquisa em museus e tive a
oportunidade de conhecer Viena e alguns lugarejos às margens do Danúbio.
Aproveitei também para dar um pulo em Bratislava, que fica pertinho. Vou
compartilhar um pouco dessas lembranças com você.
|
Ruas e avenidas limpas, bem planejadas e construídas com material de alta qualidade. Assim é Viena! - Foto: Selma |
|
Retrato de Viena no final do verão: o Volksgarten ou "Parque do Povo", com jardins bem cuidados e muitas flores. Foto: Simone Catto |
|
Volksgarten - Foto: Simone Catto |
|
O compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), um dos maiores da Áustria, recebeu uma bela homenagem no Volksgarten - Foto: Selma |
Viena não é dos destinos internacionais mais
procurados pelos brasileiros e, talvez, nem mesmo pelos próprios europeus ou
asiáticos. Devo dizer que acho isso bom, porque ela não é invadida pelas hordas
de turistas que vemos em Paris ou Roma, por exemplo. Assim que cheguei, constatei
que a cidade é a quintessência da civilização. Com uma infinidade de praças e
parques, ruas limpas e impecáveis, belas construções ao estilo Art Nouveau
germânico, o Jugendstil, além de museus variados e uma população culta
e educada, Viena é extremamente acolhedora para o turista. Eu, que sou de São
Paulo e topo diariamente com ruas lotadas, poluição, barulho e, vira e mexe,
com gente que ainda não percebeu que a Idade da Pedra já acabou há algum tempo,
tive um impacto altamente positivo e agradável ao chegar lá. Se por um lado eu
já esperava encontrar toda essa beleza e organização, me surpreendi ao verificar
que os vienenses são ainda mais civilizados do que eu imaginava.
|
Marie-Theresien-Platz, a enorme praça ajardinada que fica no centro do quarteirão dos museus. Foto: Simone Catto |
|
Belos exemplos da arquitetura vienense - Foto: Simone Catto |
Se você já visitou Viena, ótimo! Fico
feliz que também tenha tido a oportunidade de curtir a cidade. Mas se ainda não
esteve por lá, vale a pena pensar no assunto. Para começar, não há como
não se admirar com os parques e jardins que tanto contribuem para a qualidade de
vida dos habitantes da cidade. A esse respeito, vale mencionar um estudo da
consultoria internacional Mercer, de 2015, que classificou Viena em primeiro
lugar no quesito qualidade de vida, pela sétima vez consecutiva, em relação a
outras 230 cidades do mundo. A título de comparação, basta dizer que São Paulo
amargou um 121º lugar. Sim, é de chorar pedra.
O curioso é que Viena tem mais de 1,6
milhão de habitantes, mas não se vê toda essa gente na rua. Imagino que a
distribuição populacional seja equilibrada pelos bairros, possivelmente porque
todas as regiões da cidade têm um bom planejamento urbano que inclui muitas áreas
verdes, excelente infraestrutura de transporte e serviços de qualidade aos
moradores.
|
O Burggarten, parque muito frequentado pelos vienenses, não aceita a entrada de cães - Foto: Simone Catto |
|
No Burggarten e nos outros parques de Viena, as pessoas podem se sentar para conversar ou ler um livro sem ser incomodadas. Foto: Simone Catto |
|
O sossego do Burggarten - Foto: Simone Catto |
|
Burggarten com estátua do imperador Franz Joseph (1830-1916), marido da imperatriz Sissi - Foto: Simone Catto |
Não há um só bairro na cidade que não
tenha um parque ou vários jardins. E os vienenses sabem aproveitá-los porque sabem viver. Em Viena não há estresse - pelo menos, não o tipo de estresse com o qual estamos tristemente habituados por aqui. Lá as pessoas não correm enlouquecidas, não são escravas do trabalho. Não precisam matar um leão - ou um zoológico inteiro - por dia para colocar comida no prato da família ou pagar as contas no fim do mês. Os vienenses têm tempo e condição para ir aos parques para caminhar, correr, relaxar depois do expediente, levar as crianças para
brincar. O parque Prater, por exemplo, é o maior da cidade, com 6 milhões de
metros quadrados. Sua avenida principal cobre, em linha reta, mais de 4 km. Ele tem aparelhos de ginástica ao ar livre, campo de futebol, quadras poliesportivas e de
tênis, passeios a cavalo e muitas outras instalações para as pessoas praticarem esportes respirando ar puro.
|
O imenso parque Prater tem várias placas alertando os pedestres sobre o trânsito de cavalos - Foto: Simone Catto |
|
Um recanto de paz no parque Prater, verdadeiro oásis vienense - Foto: Simone Catto |
|
Deve ser muito bom ler um livro aí! Pena que não tive tempo para isso... - Foto: Simone Catto |
|
O compositor Carl Michael Ziehrer (1843-1922), um dos maiores rivais da família Strauss, também recebeu uma justa homenagem no Prater - Foto: Selma |
O Prater também é conhecido por
abrigar o parque de diversões mais antigo do mundo. A roda-gigante, símbolo de
Viena, foi construída em 1897 para comemorar o cinquentenário da ascensão do
imperador Franz Joseph ao trono e tem mais de 60 metros de altura. Já foi
ultrapassada em suas dimensões por outras rodas-gigantes mais modernas, como a
de Paris, mas vale como diversão vintage.
|
A roda-gigante do Prater - Foto: Selma |
O transporte público em Viena é extremamente
prático e eficiente. Há bilhetes com períodos de validade diferentes e você
pode usar o mesmo bilhete para o ônibus, metrô ou bonde. Muitos vienenses também
optam pela bicicleta. Vale ressaltar que Viena pode se dar ao luxo de ter
ciclovias porque, ao contrário de São Paulo, foi muito bem planejada e seus habitantes
são civilizados. Ciclistas não atropelam pedestres e carros não atropelam
ciclistas. É "outro patamar", como diz uma amiga. Trânsito não se vê nas ruas. Congestionamentos são inexistentes. O turista ainda pode passear em charretes que remetem aos tempos da imperatriz Elizabeth da Áustria, a famosa Sissi, conduzidas por
motoristas com trajes de época e garbosos cavalinhos. Se preferir, também pode fazer
um tour num simpático veículo que batizei de "ciclotáxi", uma espécie de triciclo com pedal e capota, conduzido por um motorista. Pois é. Isso é Primeiro Mundo.
|
A charrete, como no tempo do império austro-húngaro - Foto: Selma |
|
Da mesa onde tomava um vinho avistei aquilo que batizei de "ciclotáxi", transportando
turistas para lá e para cá - Foto: Selma |
Outra coisa que chama atenção na cidade é
a quantidade de galerias de arte e lojas de antiguidades. O mais fantástico é
que muitas dessas lojas são segmentadas, isto é, especializadas em determinados
tipos de produtos, como livros raros, aquarelas, moedas, porcelanas... e por
aí vai. Daí conclui-se que, se essas lojas existem, é porque também existe público
para elas, concorda? Vienenses, e austríacos em geral, têm cultura suficiente e poder
aquisitivo para consumir obras de arte e belos objetos de decoração. É mesmo um
mundo que está a anos-luz do Brasil. Daqui a alguns milênios,
quem sabe, a gente chega lá.
|
Esse antiquário é especializado em livros antigos e existe há quase cem anos - Foto: Simone Catto |
|
Fiquei encantada com essas bucólicas pinturas e aquarelas! - Foto: Simone Catto |
|
E o que dizer dessa miniárvore com ovinhos Fabergé? A grande vantagem é que ela serve para decorar a casa no Natal e na Páscoa, hehe... - Foto: Simone Catto |
Um dos índices que mostram o grau de
civilidade de um país é o respeito por sua memória e história, aí incluídas
as pessoas que ajudaram a escrever essa história. É por isso que, em Viena,
sempre encontramos monumentos ou esculturas que homenageiam grandes personalidades do mundo germânico – sejam elas oriundas das artes, da política, da música ou da literatura. Nem é preciso dizer que esses monumentos estão sempre limpos, bem preservados, sem a menor sombra de pichação ou vandalismo.
|
Schillerplatz, a praça batizada em homenagem a Friedrich Schiller (1759-1805), médico, historiador, filósofo e um dos maiores poetas alemães - Foto: Simone Catto |
|
Schiller, o poeta homenageado - Foto: Selma |
|
Goethe (1749-1832), um dos maiores escritores de língua germânica, também é reconhecido em Viena - Foto: Simone Catto |
Naturalmente, uma só postagem não é suficiente para relatar todas as coisas boas que vi e vivenciei em Viena, mas isto é só
para começar. Tenho estado bastante atarefada, mas prometo me organizar para ter
tempo para publicar, em breve, mais posts sobre essa linda cidade. Até mais!
Ou, como diriam os vienenses... Bis
später!
Nenhum comentário:
Postar um comentário