Há três anos ouvimos falar em crise, mas a SP-Arte continua aí,
firme e forte no Ibirapuera. A 13ª edição da feira de arte mais importante do
Hemisfério Sul, que agora é denominada Festival Internacional de Arte de São
Paulo, abriu para o grande público de 6 a 9 de abril, exibiu mais de 4 mil
obras e teve quase 160 expositores, incluindo 44 galerias estrangeiras. Passei
uma tarde lá e compartilho, aqui, algumas impressões e imagens que coletei na
feira.
Soube que a organização do evento se mobilizou para convencer o
governo do Estado a reduzir os exorbitantes impostos sobre as vendas dos
expositores, que giram em torno de 50% e 60%, para algo como 15% ou 16%. Além
disso, a feira contou com o patrocínio do governo japonês para seu maior estande,
o da Japan House, representando um
centro cultural nipônico a ser inaugurado em maio na Av. Paulista. O espaço
exibiu obras de 15 artistas japoneses, onde se destacaram a festejada Yayoi Kusama (1929) e Hiroshi Sugimoto (1948). A principal obra de Yayoi era uma escultura, uma
espécie de "abóbora psicodélica" de grandes dimensões. Sugimoto, por sua vez, nos brindou com
uma escultura sofisticada em que uma peça metálica assentada sobre uma
estrutura circular vai afinando gradualmente até culminar num pico afiadíssimo.
Yayoi Kusama - 'Abóbora Estrelada' (2015 - plástico reforçado com fibra de vidro e ladrilhos - 181 X 202 X 203 cm - Ota Fine Arts - Japão Foto: Simone Catto |
A propósito, muitas obras contemporâneas, selecionadas a dedo,
destacavam-se pela sofisticação das formas e, não raro, pela maneira criativa e
inusitada como diferentes materiais são
manipulados. Enquadra-se nesse caso a obra Spearmint to Peppermint, da artista
americana Pae White (1963),
representada na feira pela galeria berlinense Neugerriemschneider. Concebida
como uma tapeçaria, essa obra pode ser reproduzida pela artista e explora o
contraste expressivo entre a utilização de um material mundano – o alumínio – e
seu brilho glamouroso. A artista escaneia folhas de alumínio amassado, envia os
arquivos para um tear controlado numericamente por computador e os pixels são
transformados em uma tapeçaria de algodão, lã e poliéster. O resultado é uma
peça "trompe l’oeil" de beleza impactante. Em 2008, White reproduziu a técnica
na criação de uma cortina para a Ópera de Oslo, na Noruega, transmitindo ao espectador
a impressão de que está diante de uma parede com relevo brilhante.
Pae White - 'Spearmint to Peppermint' (2013) - tapeçaria em algodão, lã e poliéster - Galeria Neugerriemschneider - Berlim - Foto: Paulo Lanne |
A cortina de Pae White para a Ópera de Oslo - Foto: Internet (autor anônimo) |
Detalhe da obra de Pae White na feira - Foto: SP-Arte |
A galeria Neugerriemschneider
também trouxe exuberantes obras de Franz
Ackermann (1963), representado na feira também pela brasileira Fortes d'Aloia
& Gabriel. Temas como o turismo, a globalização e o urbanismo dão o tom nas
coloridas pinturas e obras de técnica mista do artista.
Obra de Franz Ackermann - Galeria Neugerriemschneider - Berlim Foto: Simone Catto |
Obra de Franz Ackermann - Galeria Neugerriemschneider - Berlim - Foto: Simone Catto |
O impacto de uma escultura só pode ser vivenciado em sua
totalidade numa experiência presencial, quando podemos sentir a textura do
material, apreciar o volume no espaço e perceber de que maneira ela interfere
no ambiente. Mesmo assim, as fotos a seguir dão uma ideia de esculturas que achei interessantes.
Saint Clair Cemin - 'Ballerina' (2006) - cobre - 150 X 120 X 120 cm Bolsa de Arte - Porto Alegre - Foto: Simone Catto |
A escultura abaixo, de uma artista do Leste europeu, é feita em acrílico e remete a um prédio de apartamentos - deu vontade de tocar!
Zhanna Kadirova - 'Yours/Mine' (2016) - 18 tijolos de acrílico e impressão UV - 122 X 36 X 36 cm - Galleria Continua San Gimignano - Itália - Foto: Simone Catto |
O fato é que, com ou sem crise, o evento pareceu-me ainda mais
sofisticado e contou com mais parceiros comerciais. Andando pelos corredores do
Pavilhão Ciccilllo Matarazzo, deparei-me com vários espaços gourmet, montados
com décor caprichado e requintes de
detalhes. Um deles, da marca de champanhe Perrier-Jouët, possuía mesinhas
convidativas nas quais os visitantes podiam degustar flûtes da bebida, as quais também eram encontradas em carrinhos estrategicamente
espalhados pela feira e servidas por rapazes uniformizados. Carrinhos também
vendiam doses do whisky Chivas, agradando aos paladares que buscavam emoções de
maior voltagem etílica e diluindo a censura de eventuais compradores na hora de
abrir a carteira nos estandes. Não faltaram, também, o onipresente restaurante
Santinho, um restaurante japonês – o Osaka - e o café Illy, dentre outros
parceiros gastronômicos. Acredito que a presença do restaurante japonês tenha
sido um agrado aos patrocinadores daquele país, além de acertar em cheio o gosto
dos paulistanos.
O espaço Perrier-Jouët: coerente com o perfil da feira - Foto: Simone Catto |
Os carrinhos das bebidas com atendentes uniformizados: presença em todos os andares - Foto: Simone Catto |
O agradável espaço montado pelo restaurante japonês Osaka - Foto: Simone Catto |
A grande novidade da SP-Arte 2017 é que, pela primeira vez, a feira
dedicou um andar inteiro ao design, abrigando 25 empresas do setor. Ao circular
por seus corredores, no andar superior, vi mobiliário assinado por nomes como
Lina Bo Bardi (1914-1992), Burle Marx (1909-1994) e Lasar Segall (1889-1957), entre outros, e belas
peças dos anos 60 e 70 coabitando em harmonia com móveis divertidos dos irmãos
Campana.
Fernando e Humberto Campana - 'Cadeira Sonia Diniz' (2003)) Firma Casa - SP - Foto: Simone Catto |
Detalhe da cadeira lúdica dos irmãos Campana - Foto: Simone Catto |
Abaixo, uma traquinagem dos irmãos Campana: um banco todo feito de bichinhos de pelúcia. Você teria coragem de sentar? Eu não!
Fernando e Humberto Campana - 'Cake Stool' (2008) Firma Casa - SP - Foto: Simone Catto |
Os lindos móveis de Hugo França construídos com resíduos florestais também fizeram sucesso!
É bom dizer que o tipo de arte encontrado na SP-Arte é bem diferente daquele exibido normalmente nas Bienais Internacionais de São Paulo, até porque os objetivos são diametralmente opostos. A SP-Arte oferece uma arte mais palatável, por assim dizer, em que predominam artistas e obras com maior potencial comercial – independentemente do valor e da data de criação. Dá para entender: se o objetivo é vender, é preciso agradar ao público. Um público mais elitizado, diga-se de passagem, que exige qualidade e explica os R$ 45,00 cobrados pelo ingresso inteiro, deixando claro que a feira, realizada anualmente, não é concebida para ser uma opção de "passeio dominical em família", e sim para atrair compradores de arte. O que não impede, naturalmente, que amantes da arte em geral – mesmo sem intenção de comprar – passeiem por seus corredores para conferir o que os artistas andam fazendo e o que as galerias têm de melhor a oferecer.
Foto: Simone Catto |
É bom dizer que o tipo de arte encontrado na SP-Arte é bem diferente daquele exibido normalmente nas Bienais Internacionais de São Paulo, até porque os objetivos são diametralmente opostos. A SP-Arte oferece uma arte mais palatável, por assim dizer, em que predominam artistas e obras com maior potencial comercial – independentemente do valor e da data de criação. Dá para entender: se o objetivo é vender, é preciso agradar ao público. Um público mais elitizado, diga-se de passagem, que exige qualidade e explica os R$ 45,00 cobrados pelo ingresso inteiro, deixando claro que a feira, realizada anualmente, não é concebida para ser uma opção de "passeio dominical em família", e sim para atrair compradores de arte. O que não impede, naturalmente, que amantes da arte em geral – mesmo sem intenção de comprar – passeiem por seus corredores para conferir o que os artistas andam fazendo e o que as galerias têm de melhor a oferecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário