domingo, 16 de abril de 2017

SP-Arte 2017 (parte 1). Uma amostra do que as galerias têm de melhor.

Há três anos ouvimos falar em crise, mas a SP-Arte continua aí, firme e forte no Ibirapuera. A 13ª edição da feira de arte mais importante do Hemisfério Sul, que agora é denominada Festival Internacional de Arte de São Paulo, abriu para o grande público de 6 a 9 de abril, exibiu mais de 4 mil obras e teve quase 160 expositores, incluindo 44 galerias estrangeiras. Passei uma tarde lá e compartilho, aqui, algumas impressões e imagens que coletei na feira. 

Soube que a organização do evento se mobilizou para convencer o governo do Estado a reduzir os exorbitantes impostos sobre as vendas dos expositores, que giram em torno de 50% e 60%, para algo como 15% ou 16%. Além disso, a feira contou com o patrocínio do governo japonês para seu maior estande, o da Japan House, representando um centro cultural nipônico a ser inaugurado em maio na Av. Paulista. O espaço exibiu obras de 15 artistas japoneses, onde se destacaram a festejada Yayoi Kusama (1929) e Hiroshi Sugimoto (1948). A principal obra de Yayoi era uma escultura, uma espécie de "abóbora psicodélica" de grandes dimensões. Sugimoto, por sua vez, nos brindou com uma escultura sofisticada em que uma peça metálica assentada sobre uma estrutura circular vai afinando gradualmente até culminar num pico afiadíssimo.

Yayoi Kusama - 'Abóbora Estrelada' (2015 - plástico reforçado com
fibra de vidro e ladrilhos - 181 X 202 X 203 cm - Ota Fine Arts - Japão
Foto: Simone Catto

Hiroshi Sugimoto - 'Modelo Matemático 006: Superfície de Revolução com Curvatura Negativa Constante' (2006)
alumínio usinado. Peça superior: 1305 X 600 mm. Base: 800 X 1800 mm - Galeria Koyanagi - Japão
FotoJulia Flamingo/Veja SP

A propósito, muitas obras contemporâneas, selecionadas a dedo, destacavam-se pela sofisticação das formas e, não raro, pela maneira criativa e inusitada como diferentes materiais são manipulados. Enquadra-se nesse caso a obra Spearmint to Peppermint, da artista americana Pae White (1963), representada na feira pela galeria berlinense Neugerriemschneider. Concebida como uma tapeçaria, essa obra pode ser reproduzida pela artista e explora o contraste expressivo entre a utilização de um material mundano – o alumínio – e seu brilho glamouroso. A artista escaneia folhas de alumínio amassado, envia os arquivos para um tear controlado numericamente por computador e os pixels são transformados em uma tapeçaria de algodão, lã e poliéster. O resultado é uma peça "trompe l’oeil" de beleza impactante. Em 2008, White reproduziu a técnica na criação de uma cortina para a Ópera de Oslo, na Noruega, transmitindo ao espectador a impressão de que está diante de uma parede com relevo brilhante.

Pae White - 'Spearmint to Peppermint' (2013) - tapeçaria em algodão, lã e poliéster - Galeria Neugerriemschneider - Berlim - Foto: Paulo Lanne

A cortina de Pae White para a Ópera de Oslo - Foto: Internet (autor anônimo)

Detalhe da obra de Pae White na feira - Foto: SP-Arte

A galeria Neugerriemschneider também trouxe exuberantes obras de Franz Ackermann (1963), representado na feira também pela brasileira Fortes d'Aloia & Gabriel. Temas como o turismo, a globalização e o urbanismo dão o tom nas coloridas pinturas e obras de técnica mista do artista.

Obra de Franz Ackermann - Galeria Neugerriemschneider - Berlim
Foto: Simone Catto

Obra de Franz Ackermann - Galeria Neugerriemschneider - Berlim - Foto: Simone Catto

O impacto de uma escultura só pode ser vivenciado em sua totalidade numa experiência presencial, quando podemos sentir a textura do material, apreciar o volume no espaço e perceber de que maneira ela interfere no ambiente. Mesmo assim, as fotos a seguir dão uma ideia de esculturas que achei interessantes.

Saint Clair Cemin - 'Ballerina' (2006) - cobre - 150 X 120 X 120 cm
Bolsa de Arte - Porto Alegre - Foto: Simone Catto

A escultura abaixo, de uma artista do Leste europeu, é feita em acrílico e remete a um prédio de apartamentos - deu vontade de tocar!

Zhanna Kadirova - 'Yours/Mine' (2016) - 18 tijolos de acrílico
e impressão UV - 122 X 36 X 36 cm - Galleria Continua
San Gimignano - Itália - Foto: Simone Catto

O fato é que, com ou sem crise, o evento pareceu-me ainda mais sofisticado e contou com mais parceiros comerciais. Andando pelos corredores do Pavilhão Ciccilllo Matarazzo, deparei-me com vários espaços gourmet, montados com décor caprichado e requintes de detalhes. Um deles, da marca de champanhe Perrier-Jouët, possuía mesinhas convidativas nas quais os visitantes podiam degustar flûtes da bebida, as quais também eram encontradas em carrinhos estrategicamente espalhados pela feira e servidas por rapazes uniformizados. Carrinhos também vendiam doses do whisky Chivas, agradando aos paladares que buscavam emoções de maior voltagem etílica e diluindo a censura de eventuais compradores na hora de abrir a carteira nos estandes. Não faltaram, também, o onipresente restaurante Santinho, um restaurante japonês – o Osaka - e o café Illy, dentre outros parceiros gastronômicos. Acredito que a presença do restaurante japonês tenha sido um agrado aos patrocinadores daquele país, além de acertar em cheio o gosto dos paulistanos.

O espaço Perrier-Jouët: coerente com o perfil da feira - Foto: Simone Catto

Os carrinhos das bebidas com atendentes uniformizados: presença em todos os andares - Foto: Simone Catto

O agradável espaço montado pelo restaurante japonês Osaka - Foto: Simone Catto

A grande novidade da SP-Arte 2017 é que, pela primeira vez, a feira dedicou um andar inteiro ao design, abrigando 25 empresas do setor. Ao circular por seus corredores, no andar superior, vi mobiliário assinado por nomes como Lina Bo Bardi (1914-1992), Burle Marx (1909-1994) e Lasar Segall (1889-1957), entre outros, e belas peças dos anos 60 e 70 coabitando em harmonia com móveis divertidos dos irmãos Campana.

Fernando e Humberto Campana - 'Cadeira Sonia Diniz' (2003))
Firma Casa - SP - Foto: Simone Catto

Detalhe da cadeira lúdica dos irmãos Campana - Foto: Simone Catto

Abaixo, uma traquinagem dos irmãos Campana: um banco todo feito de bichinhos de pelúcia. Você teria coragem de sentar? Eu não!

Fernando e Humberto Campana - 'Cake Stool' (2008)
Firma Casa - SP - Foto: Simone Catto

Os lindos móveis de Hugo França construídos com resíduos florestais também fizeram sucesso!

Foto: Simone Catto

É bom dizer que o tipo de arte encontrado na SP-Arte é bem diferente daquele exibido normalmente nas Bienais Internacionais de São Paulo, até porque os objetivos são diametralmente opostos. A SP-Arte oferece uma arte mais palatável, por assim dizer, em que predominam artistas e obras com maior potencial comercial – independentemente do valor e da data de criação. Dá para entender: se o objetivo é vender, é preciso agradar ao público. Um público mais elitizado, diga-se de passagem, que exige qualidade e explica os R$ 45,00 cobrados pelo ingresso inteiro, deixando claro que a feira, realizada anualmente, não é concebida para ser uma opção de "passeio dominical em família", e sim para atrair compradores de arte. O que não impede, naturalmente, que amantes da arte em geral – mesmo sem intenção de comprar – passeiem por seus corredores para conferir o que os artistas andam fazendo e o que as galerias têm de melhor a oferecer.

Como tirei muitas fotos e não daria para reproduzi-las num só post, você pode conferi-las em duas outras publicações do blog sobre a SP-Arte 2017. Clique AQUI para acessar outras obras produzidas a partir de 1960, e AQUI para conferir obras de mestres já consagrados, anteriores a 1960. 

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