Desde criança
eu costumava descer para o litoral com a família e adorava quando meu pai
pegava a Estrada Velha de Santos. Eu ficava fascinada com as casas de pedra ao
longo da serra, imaginando que deveriam ser construções muito antigas. Sem
falar, naturalmente, que a paisagem exuberante da Mata Atlântica também acendia
minha imaginação. Como meu pai nunca parou em nenhuma daquelas casas para que
pudéssemos visitá-las, cresci com essa curiosidade, até descobrir, anos atrás,
que a Estrada Velha estava fechada para automóveis e aberta somente para
caminhadas turísticas.
Finalmente, pude
matar minha vontade. No mês passado fiz uma caminhada na Serra Velha, também
conhecida como rodovia Caminho do Mar (SP-148). Mas antes de contar como foi o
passeio, vale voltar um pouquinho no tempo para situá-la na história.
Construída na década de 1920, essa estrada foi a primeira a ser pavimentada com
concreto na América do Sul. Naquela mesma época, foram construídas as tais
casas de pedra ao longo da rodovia, com o objetivo de celebrar o centenário da
Independência do Brasil, comemorado em 1922. Em 1947, com a construção da Via
Anchieta, a Estrada Velha começou a entrar em decadência e foi fechada para veículos em 1985 por motivo de
segurança.
Em 2004, o
Governo do Estado de São Paulo resolveu abrir a rodovia para a prática de
ecoturismo e, de lá para cá, as pessoas têm tido a oportunidade de percorrer
seus oito quilômetros a pé, apreciando a exuberante paisagem da Mata Atlântica
que integra o Parque Estadual da Serra do Mar. São 700 metros de altitude partindo
de São Bernardo do Campo até a chegada a Cubatão, lá embaixo, no nível do mar.
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Foto: riachogrande.net |
Lindos manacás cor-de-rosa dominavam todo o trecho da estrada e também apareciam
em vários pontos da paisagem da serra.
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Os manacás da serra são um espetáculo! - Foto: Simone Catto |
Durante o trajeto também não faltam bicas e cachoeiras! Mas atenção: nem sempre a água é potável devido à proximidade com Cubatão.
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
A primeira construção histórica que visitamos em nossa descida foi o Pouso
Paranapiacaba, uma casa em alvenaria, rochas, tijolos e granito lavrado.
Ponto de parada de carros durante a viagem entre Santos e São Paulo, o Pouso possui
um painel de azulejos pintados retratando o mapa do Estado e as estradas
existentes à época. "Paranapiacaba", em tupi, significa "local de onde se vê o
mar". Não vimos o mar, mas pudemos ter uma vista aérea de Cubatão, apesar de um
pouco de nebulosidade.
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O Pouso Paranapiacaba e nossa turma de andarilhos - Foto: Simone Catto |
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Detalhe do Pouso Paranapiacaba com o mapa de São Paulo - Foto: Simone Catto |
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A construção é imponente... - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
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Embora fizesse bastante calor naquele dia, o céu estava um pouco encoberto - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
A próxima parada foi no Padrão do Lorena, um monumento construído em 1922 em
homenagem a Bernardo José Maria de Lorena, governador da Província de São
Paulo. Porém, não chegamos até o monumento pela estrada de concreto.
Percorremos um pequeno trecho da famosa – e histórica - Calçada do Lorena.
Construída em 1792 a mando do governador Bernardo Lorena e restaurada em 1992,
essa calçada foi o primeiro caminho pavimentado com pedras na região da Serra
do Mar, ligando São Paulo ao porto de Cubatão. Muitas mercadorias eram
transportadas por ali, no lombo de mulas. Dizem que D. Pedro I passou pela
Calçada do Lorena para ir de Santos às margens do Rio Ipiranga proclamar a
Independência do Brasil. Se é verdade, não sabemos. Mas impossível não é!
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Padrão do Lorena - Foto: Marcel Vincenti |
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Lateral do monumento - Foto: Simone Catto |
O governador Bernardo Lorena, que mandou construir a Calçada do Lorena, foi homenageado nesta azulejaria no interior do arco do Padrão do Lorena. Não sabemos se os azulejos são portugueses, mas o estilo sem dúvida é!
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
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A lendária Calçada do Lorena - Foto: Marcel Vincenti |
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Outro ângulo da Calçada - Foto: Marly Paes |
Mais para a frente, paramos no Rancho da Maioridade, batizado em
alusão à Estrada da Maioridade, de 1846, que homenageava a maioridade de D.Pedro
II. Lá fizemos um reforçado lanche ao ar livre apreciando a belíssima paisagem
da serra. Um privilégio!
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Rancho da Marioridade - Foto: Simone Catto |
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Aqui fizemos o nosso lanche! - Foto: Simone Catto |
Detalhe: havia toaletes à disposição no interior da casa, porém eles estavam
muito mal conservados. A esse respeito, aliás, é preciso dizer que o interior
das construções precisa urgentemente de um restauro, pois algumas partes do
teto até ameaçavam cair. Atenção, Governo do Estado!!
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Fundos do Rancho da Maioridade - Foto: Simone Catto |
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Detalhe da entrada dos fundos - Foto: Simone Catto |
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Banco no terraço do Rancho da Maioridade, com um belo trabalho de azulejaria - Foto: Simone Catto |
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O interior da construção precisa de uma boa restauração! - Foto: Marly Paes |
O passeio exige um preparo físico razoável e joelhos fortes porque a descida
força a panturrilha. Nada impede que você também faça o caminho
contrário e suba a serra, naturalmente, mas aí a caminhada fica mais pesada. De
uma forma ou de outra, é fundamental usar tênis apropriados, protetor solar,
óculos escuros, chapéu e repelente de mosquitos. No dia do passeio fazia um sol
intenso e nem o protetor solar deu conta do recado. É importante levar lanche e
água, pois não há restaurantes no trajeto.
Como fiz o passeio com
a agência de turismo Siga Brasil (facebook.com/sigabrasiltur), o pacote
incluiu traslado de ônibus – ida e volta, lanche, o acompanhamento de dois
guias e um almoço no restaurante Rei do Abadejo, no Riacho Grande. O
restaurante é simples, mas a comida é deliciosa e os pratos são para lá de
fartos.
Às 7h da manhã os ônibus saíram dos terminais rodoviários Jabaquara (São Paulo) e
Ferrazópolis (São Bernardo do Campo) até a rodovia Caminho do Mar. O lanche que
comemos durante a caminhada, caprichado, tinha maçã, goiaba, sanduíche de queijo e peito
de peru com requeijão no pão de forma, barras de cereais, biscoitos doces e
salgados e refresco de açaí. Deu para alimentar com folga até a hora do almoço
chegar. Além dos dois guias da agência, um monitor do Parque Estadual da Serra
do Mar também nos acompanhou e explicou um pouco sobre a fauna, a
flora e a história do lugar. No total, a contar do encontro na
rodoviária de manhã, até a volta do almoço e o retorno à rodoviária, o
passeio durou umas dez horas. Vale muito a pena, recomendo!
Oi, eu gostaria de saber se essas fotos são desse ano, obrigada!
ResponderExcluirOlá, Ana! Sim, as fotos são de fevereiro deste ano, 2017. Abraço!
ExcluirBoa noite, fazendo pesquisas para meu filho, cheguei a esse site, gosto muito da imagens, tenho várias, pois residi ali bem próximo, em Riacho Grande. Conhecemos o Rancho da Maioridade, como " Casa de Pedra ".
ResponderExcluirOlá, Fábio, eu também conhecia a construção como "Casa de Pedra". Sempre quis conhecê-la quando era criança, mas não havia tido a oportunidade. Este ano, finalmente, consegui!
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