sábado, 15 de junho de 2013

Obras que tocam a alma em Inhotim.

É inquestionável que a grande vedete do Instituto Cultural Inhotim, em Minas Gerais, é a natureza exuberante que enfeita seus mais de 785 hectares (lembramos que um hectare tem 10.000 metros!). Tão belo quanto monumental, o parque é considerado o maior museu a céu aberto do mundo.

Foto: Simone Catto

Após retornar de minha visita a esse paraíso natural, seguida de uma deliciosa estada na cidade de Tiradentes, acessei o site de Inhotim e notei que muitas das obras mostradas online não estavam em exibição no parque, o que me levou a concluir que deve haver um rodízio para exibi-las. O acervo artístico do Instituto inclui cerca de 500 obras de arte contemporânea de mais de 100 artistas de 30 países, sendo que muitas esculturas e instalações foram criadas especificamente para a coleção, estabelecendo um diálogo com a paisagem circundante.

Confesso que a maior parte das obras que contemplei em Inhotim não me empolgou, mas devo dizer que isso não é novidade, para mim, em se tratando da produção artística contemporânea. Poucas obras dos anos recentes, sobretudo da última década, despertaram minha real admiração. Contudo, destaco algumas exceções que, de alguma forma, tocaram minha sensibilidade nos dois dias de minha visita a Inhotim. Vamos lá:

• Doug Aitken - Sonic Pavilion (2009)

Foto: Simone Catto

Situado no alto de uma colina e acessado por uma trilha isolada no meio da floresta, o Sonic Pavilion é a obra que mais me impressionou. Consiste em uma construção dentro da qual podemos ouvir uma transmissão contínua de sons emitidos a 200 metros abaixo da terra e captados por microfones geológicos. É impressionante sentir as vibrações da terra e a intensidade com que os ruídos se alternam, ora suaves, ora intensos. Dá vontade de ficar horas lá dentro, só ouvindo esses sons subterrâneos, enquanto apreciamos uma paisagem deslumbrante à volta.

Janet Cardiff - Forty Part Motet (2001)

Foto: Pedro Motta

Ao entrar na galeria onde está essa obra de Janet Cardiff, nossos ouvidos e nossa alma são tomados por um coral tão deslumbrante que julgamos ouvir uma legião de anjos. Trata-se de uma instalação sonora com 40 canais e cerca de catorze minutos que transmite um moteto (tipo de composição polifônica medieval) do século XVI entoada pelo coro da catedral de Salisbury, Inglaterra. A canção, chamada Spem in Alium nunquam habui, trata de humildade e transcendência e é considerada uma das mais complexas obras polifônicas para canto coral jamais compostas. Foi criada pelo católico Thomas Tallis para a comemoração do aniversário da Rainha Elizabeth 1ª, em 1575, lembrando que à época a fé católica era duramente reprimida pelo Estado inglês. Utilizando microfones individuais, Janet Cardiff gravou cada integrante do coral separadamente, e na instalação usa um alto-falante para cada voz, permitindo que possamos ouvir cada uma e perceber as diferentes harmonias à medida que percorremos o espaço. Estupendo.

Valeska Soares – Folly (2005-2009)

Foto: Simone Catto

Ao entrar nesse pavilhão de madeira e espelho, somos envolvidos pela balada 'The Look of Love', de Burt Bacharach, em um ambiente à meia-luz tomado por projeções de um casal dançando que se reflete por todas as paredes. A ideia da artista foi criar um ambiente romântico e agradável para as pessoas vivenciarem, mas, bem no momento de minha visita, um grupo de crianças literalmente "invadiu" o local e tudo o que vi foram seres endiabrados correndo freneticamente pelo salão e se divertindo com suas imagens refletidas nos espelhos em meio à escuridão. Bem, se eu tivesse alguma pretensão romântica, certamente aquela não seria a hora e nem o lugar para colocá-la em prática! (rs) Quem sabe na próxima vez??? (rsrs)

O acesso ao romântico pavilhão 'Folly' começava por uma trilha idílica margeando um belo rio - Foto: Simone Catto

Cildo Meireles - Desvio para o vermelho (1967-84)

Foto: Pedro Motta

Exibida em Inhotim em caráter permanente desde 2006, Desvio para o Vermelho, na Galeria Cildo Meireles, é uma obra no mínimo curiosa. Logo ao entrarmos, somos impactados por uma avalanche sensorial escarlate em um ambiente onde tudo é vermelho: os móveis, objetos, os mínimos detalhes e enfeites. Ao abrirmos o guarda-roupa, vemos peças totalmente vermelhas. O mesmo ocorre com a geladeira, que só contém alimentos vermelhos. Segundo o texto dos curadores, a leitura da obra é aberta a uma série de simbolismos e metáforas, desde a violência do sangue até ideologias políticas. Bem, seja lá o que for que o artista tenha pretendido comunicar... o resultado ficou divertido.

• Adriana Varejão - Celacanto Provoca Maremoto (2004-2008)

Foto: Vicente de Mello

Nessa obra interessante de Adriana Varejão, a artista mescla elementos barrocos com a azulejaria portuguesa.

Essas são as obras que se destacaram em Inhotim segundo meu ponto de vista. Quem sabe se, ao visitar aquele lugar de sonhos, você não se encantará por outras?  

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