Não tem jeito: a primeira coisa que vem à cabeça quando ouvimos falar de Verona é a lenda de Romeu e Julieta, de Shakespeare, ambientada nessa cidade da região do Veneto. É fato que, se Verona ganhou fama no mundo inteiro, foi por obra e graça do "bardo", que tão bem traduziu as paixões universais.
Portanto, eu não poderia deixar de conhecer a "Casa di Giuletta", talvez a casa mais famosa, em todo o mundo, a ter abrigado alguém que nunca existiu – no caso, Julieta. Construído no século XIII, o prédio pertenceu por um longo período à família "Dal Cappello" – daí a associação com o sobrenome “Capuletto” e o início da crença popular de que ali tenha morado a mítica heroína de Shakespeare.
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Fachada da "Casa di Giulietta" - Foto: Simone Catto |
O aspecto atual da casa é resultado de uma radical restauração que foi realizada entre 1936 e 1940, durante a qual foram acrescentadas uma passagem em estilo gótico e o famoso balcão interior.
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Interior da casa - Foto: Simone Catto |
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O balcão de "Julieta" (que não era de Julieta) - Foto: Simone Catto |
A estátua de Julieta no jardim, em bronze, foi esculpida por Nereo Costantini. Diz a tradição que devemos colocar a mão em seu seio, para ter sorte no amor. Resultado: o seio direito da pobre Julieta está até desbotado de tanta "pegação"!! rs... repare na foto.
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A estátua de Julieta com o seio desbotado - Foto: Simone Catto |
Porém, a primeira coisa que avistei ao chegar a Verona não foi o fantasma de Shakespeare (o que teria sido uma honra!) e nem de algum membro da família "Dal Cappello". O que vi primeiro foi a magnífica Arena di Verona, uma edificação impressionante da primeira metade do século I d.C. construída pelos romanos para abrigar lutas de gladiadores – entre si e com animais selvagens, o que, cá entre nós, devia ser um espetáculo medonho. (Qualquer semelhança com as touradas espanholas não são mera coincidência...) Esses espetáculos atraíam pessoas de várias regiões, muitas vindas de longe. Escavações sob a estrutura revelaram um complexo sistema hidráulico que permitia conduzir água para o interior, possibilitando a limpeza da arena depois das sanguinárias lutas.
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A Arena di Verona - Foto: acervo pessoal |
Originalmente, o anfiteatro havia sido construído fora dos muros da cidade para facilitar o acesso do público que vinha de outras cidades e também para prevenir brigas e tumultos, já que o espaço comporta cerca de 30.000 pessoas. Aliás, nesse quesito os romanos não eram nada bobos – basta ver o que acontece hoje nos estádios de futebol quando hordas de trogloditas se engalfinham. A civilização não evoluiu muito, não... Só no século III, época das invasões bárbaras, a Arena foi incluída dentro dos muros da cidade para fortalecê-la.
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A muralha da cidade - Foto: Simone Catto |
A fachada, da qual ainda resta uma pequena porção, era toda feita de grandes blocos de pedra calcárea branca e rosa proveniente da região de Valpolicella. Na Idade Média, vários duelos, combates e torneios foram realizados ali. Depois de um terremoto, em 1117, que quase destruiu o anel exterior, a Arena foi utilizada como pedreira para a construção de outros edifícios. As primeiras restaurações foram feitas no Renascimento, para a encenação de peças teatrais.
Um dos lugares mais bonitos que visitei em Verona, à noite, foi a Piazza delle Erbe, emoldurada por palácios e edifícios que marcaram sua história. Na época romana, ali ficava o Forum, centro da vida política e econômica da cidade. Repare na cor do céu nas fotos abaixo, é um dos azuis mais bonitos que já vi.
A partir de 1913, graças à sua impressionante acústica, a construção ficou famosa pelas magníficas temporadas de ópera – aliás, a Arena de Verona é o maior teatro lírico a céu aberto do mundo. Até que enfim deram à obra uma finalidade digna de sua beleza!
E já que cultura nunca é demais, uma curiosidade: o nome "arena", tão popular hoje, deriva de uma alusão à área central das antigas arenas romanas, que eram cobertas de areia - "arena" significa “areia” em latim. Você sabia disso? Eu não!
Um dos lugares mais bonitos que visitei em Verona, à noite, foi a Piazza delle Erbe, emoldurada por palácios e edifícios que marcaram sua história. Na época romana, ali ficava o Forum, centro da vida política e econômica da cidade. Repare na cor do céu nas fotos abaixo, é um dos azuis mais bonitos que já vi.
Até hoje a praça abriga um colorido mercado que vende frutas, bijuterias, lenços, souvenirs, máscaras venezianas, peças de Murano e outros badulaques.
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Vista da praça com o mercado - o céu já estava mais escuro... - Foto: acervo pessoal |
Como visitei a cidade perto do Halloween, as abóboras estavam bem visíveis na barraca, à espera do freguês!
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Foto: acervo pessoal |
No centro da praça está a fonte da Madonna de Verona, construída em 1368 por um homem chamado Cansignorio. Na verdade, dizem que a escultura da Madonna é do século I e que Cansignorio completou algumas partes que faltavam, sobretudo a cabeça.
Abaixo está o Domus Mercatorum ("Casa do Comerciante"), um belo edifício de pedra construído em 1301 por Alberto I della Scala para abrigar o centro de comércio da cidade. Após sofrer inúmeras modificações, no final do século XIX o edifício recobrou sua forma original no estilo românico.
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Domus Mercatorum - Foto: Simone Catto |
Outra construção que merece atenção é o belíssimo Palazzo Maffei, um edifício em estilo barroco construído em 1668. Repare nos detalhes da fachada, abaixo. A balaustrada, no topo, tem 6 estátuas de divindades da mitologia greco-romana: Hercules, Júpiter, Vênus, Mercúrio, Apolo e Minerva.
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Palazzo Maffei - Foto: acervo pessoal |
Apesar de termos adorado a Piazza delle Erbe, resolvemos jantar em outra praça famosa, a Piazza Bra, onde fica a Arena. De frente para ela há vários restaurantes muito gostosos, com mesas no largo calçadão, e optamos por uma pizzaria. Fomos atendidos por um casal de jovens supersimpáticos e pedimos vinho e pizza.
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Restaurantes em frente à Piazza Bra - Foto: Simone Catto |
Este é o vinho que pedimos...
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Foto: Simone Catto |
Agora repare no tamanho da pizza! Sim, na Itália as pizzas são individuais, ou seja: vieram cinco destas!!! Para quem come no máximo dois pedaços, como eu, isso foi o cúmulo da esbórnia... rsrss. Ainda bem que a massa era fina e o recheio era bom, com funghi, presunto, queijo... rs.
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Foto: acervo pessoal |
Por tudo isso, e muitas outras "cositas mas", Verona é uma cidade linda que merece alguns dias de hospedagem. Fiquei no Hotel Leopardi, um excelente quatro estrelas com suítes amplas e confortáveis e um delicioso bufê de café da manhã. Apesar de não estar próximo do centro para caminhadas a pé, o hotel fica a poucos minutos de carro. Recomendo!