domingo, 8 de junho de 2014

'Eu, mamãe e os meninos'. Quando um ator estupendo torna um filme imperdível.

Guillaume é um rapaz tímido, sensível, intelectual, franzino, meio desajeitado... um doce, enfim. Pertence a uma família abastada, tem dois irmãos e nutre profunda adoração pela mãe, uma loira alta, voluntariosa e autocentrada que o trata com displicência e, o que é pior, confunde a identidade sexual do garoto ao tratá-lo como a filha que nunca teve. Esse menino cresce, vira um homem maduro e torna-se um ator competente totalmente resolvido com sua sexualidade. Agora o detalhe inusitado: o ator que interpreta Guillaume adolescente é o mesmo que o interpreta adulto, e também interpreta... sua mãe! Sim. Se você assistisse ao filme sem saber disso, JA-MAIS diria que Guillaume e sua mãe são a mesma pessoa.

E que filme é esse? Estou falando de 'Eu, mamãe e os meninos', que conquistou vários prêmios no César 2014, o 'Oscar' do cinema francês, entre eles o de melhor ator, filme e roteiro. O ator que interpreta magistralmente esses papéis é Guillaume Gallienne, que tem 42 anos, pertence à prestigiada Comédie Française e também atuou como diretor e roteirista desse filme, que, segundo soube, tem um fundo autobiográfico.

Guillaume Gallienne dá um show interpretando, ao mesmo tempo, o adolescente 'Guillaume' e sua mãe.

E ainda por cima, o ator de 42 convence como adolescente!

Profundamente expressivo, o filme mostra os conflitos psicológicos do rapaz e seu relacionamento com a mãe desnaturada de uma forma leve, sensível e extremamente divertida. Enquanto seus irmãos mais velhos gostam de brincadeiras de meninos, Guillaume não tem nenhum jeito para os esportes, tomando tombos homéricos nas aulas de equitação ou sendo atropelado pelos colegas do time de rugby, dentre os vários esportes que tenta praticar sem sucesso. O menino, que sentia profunda empatia por qualquer mulher que cruzasse seu caminho, incluindo a avó e as tias, preferia imitar a imperatriz 'Sissi' no segredo de seu quarto. Como se não bastasse, sua admiração pela mãe era tão cega, que ele fazia de tudo para se parecer com ela. Um dia, essa mãe que mal lhe ouvia enviou-o à Espanha e Guillaume acabou aprendendo a dançar flamenco como uma mulher, virando motivo de chacota. Previsivelmente, sofreu bullying em todas as escolas por que passou, devido a sua suposta homossexualidade, e chegou mesmo a pensar estar apaixonado por um colega.

Ao vestir-se de 'Sissi', a imperatriz, Guillaume é flagrado pelo pai e dá uma desculpa esfarrapada.

E assim o pobre Guillaume vai experimentando com a vida e realizando tantas atividades diferentes quanto seu dinheiro permite para tentar encontrar sua identidade sexual e seu lugar no mundo. À medida que vai tomando consciência de si mesmo por meio de seus desejos, seu sentimento pela mãe vai sofrendo uma transmutação e o amor cego transforma-se em um mix de ternura, raiva e ironia.

Ninguém diz que Guillaume e sua mãe são a mesma pessoa!

Apesar do humor agridoce, o filme arranca muitas risadas em situações verdadeiramente hilariantes, como a cena em que a avó, que começa a ficar senil e a trocar as palavras, diz verdadeiras barbaridades à mesa em uma refeição com a família. Infelizmente, não sei por que cargas d’água, o filme que estreou em São Paulo há apenas um mês já saiu de cartaz! Não dá para entender, já que é tão bom. Contudo, se você tiver a oportunidade de assistir, de uma forma ou de outra, não perca! Trata-se de excelente cinema em um filme sensível como poucos. 

Françoise Fabian interpreta a chique avó de Guillaume em uma das cenas mais hilárias do filme.

Ficha técnica parcial

Título original: Les garçons et Guillaume, à table!
Direção: Guillaume Gallienne
Elenco: Guillaume Gallienne (Guillaume e sua mãe), André Marcon (pai de Guillaume), Françoise Fabian (avó), Diane Kruger (Ingeborg)

Nenhum comentário:

Postar um comentário